Aprendendo a ser

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Fá-lo-ei por eles e por outros que me confiaram as suas vidas, dizendo: toma, escreve, para que o vento não o apague.

7 de dezembro de 2010

Tolo Balé

Sob véu e manto dourado
Brinquei de sonhos pela sala da casa
E os sonhos tão vivos na minha dança
Que até pensei que comigo também dançavam


De meninice me sabia rica
Inconsciente como a rosa que passa
Que de tão tola logo se faz moça


Dancei pela sala, quarto e jardim
Não era dança coreografada
É dança de quem moça deseja ser
Mas que é de menina desvairada.

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Tolo Balé

sob véu e manto dourado
brinquei de sonhos pela sala, pelo quarto...
e os sonhos tão vivos na minha dança
que até pensei que comigo também dançavam

de meninice me sabia rica
inconsciente como a rosa que passa
que de tão tola
logo se faz moça
pensando que a vida é dança clássica
mas que não passa de dança de rua
desarticulada
vulgar
à espreita de quem nela tombar
cair é fácil
difícil é levantar

tola bailarina!
esquece que a vida
não perdoa quem com ela brinca

dancei pela sala, quarto e jardim
não era dança coreografada
era dança de quem moça deseja ser
mas que não passa de menina desvairada

como toda bailarina, lépida e avoante
busquei sonhos ora próximos
e sonhos ora distantes
busquei venturas
e passos cada vez mais largos
e incapaz o meu corpo
de sustentá-los
distantes de mim
de ti, da vida
tola bailarina!

o peso dos anos pesou sobre a bailarina
que foi se recolhendo aos poucos
e quando viu, se tornara tímida
incapaz de se apresentar em público
incapaz de um passo resoluto

toda velha bailarina
depois de anos de dança
sente o cansaço
os músculos pesados
distorcidos
saldos da meninice
dos pulos inconsequentes
que um dia dera
mal sabia ela
que pairar sobre o ar não é mister
que o difícil é
suster os pés no chão
e encarar o mundo que te olha sem compaixão

lembro dos dias que te vi no palco
a transladar seus passos
desculpa, se de ti
tenho compaixão
é que outrora tanto eu te admirava
que anos depois
ainda permanece algo
sem pensar que tu pulavas tão alto
mas que um dia eu te veria frágil.

5 de dezembro de 2010

(Dí)-Vida

eu te seria grato, vida,
caso
não fosses (dí)vida
que penosamente tenho pago

se tivestes tão logo me deste o fôlego,
de que necessito para suportar o gozo
tivestes me dado a chama pra  (revidar) as farpas que me inflamam

tivesse me dado a calma
pra conter as dores que me trespassam a alma

tivesse me dado amores,
mais calmos
menos ferozes dores
me dado uma natureza mansa
não essa descompensada
que fácil demais se zanga

tivesse contido a fala, o choro, a angústia
o vazio da vazia sala
o sofá de luto
a TV de esperança
a estante de festa
não fosse minha herança
que se expandisse a fresta
embora por vezes a luz me cegue
e não a solidão
 das salas de espera...

Ah! as preces repetidas
desacreditadas de sua valia.
as festas, os holofotes..
da casa, os dias fora
do pesado convívio, a fuga
não me pesasse tanto
o silencio entre nos instalado
 não fosse mais forte
um sim, um não
um suspiro de enfado
meu sombrio quarto
e cada ente da família cada vez mais afastado

os remédios pra dormir
o inclemente sol do meio dia
os sorrisos sem graça
as lágrimas disfarçadas
de que ninguém ri, as piadas
o medo do futuro,
que já o cobre de luto
que o medo no princípio
é até boa medida
pra quem não quer ficar bêbado
mas o medo
tempo e tempo
tira o sabor de qualquer fruta
e o torna azedo
o medo do futuro,
a ventura não suporta
preciso de uma cura.