Aprendendo a ser

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Fá-lo-ei por eles e por outros que me confiaram as suas vidas, dizendo: toma, escreve, para que o vento não o apague.

30 de julho de 2010

Saudade do que não foi



É que...
Eu nunca soube
Que os meus grandes amores viriam tarde
Que os meus amores tarde viriam para mim
Quando eu mal sabia que a ventura dos grandes amores
São as grandes dores que eles nos fazem sentir

Teria por mediocridade de amor que quer ser vivido
Retardado o sentimento
Esperado a hora do beijo
Renegado tão logo desejo
Tão cedo ele tivesse se pressentido

Ah, eu não teria consumido esse amor em vão
Perdê-lo a ermo
Nem feito dele meu calmo desassego
Se eu soubesse teria, bem que teria...
Suprimido minha presença e tarde me apresentado
Assim e só assim eu seria para ti
O que hoje sou
Sonho de amor teu
Mas sonho meu já não és

O sonho do teu amor
Pra mim tarde...
Pra ti cedo...
Contudo, desencontrado a nós nos chegou
Ah, essa pétala caída!
Que em tempo errado se regou
Essa plantação perdida!
Que chuva o céu renegou
Esse teu sorriso que a mim só se direcionou
Tão logo pra outro lado minha visão se voltou

Ah, que esse amor tarde a ti me chegou
Como fruto apodrecido
Que nem mesmo sentirá a mordida do desejo
Ah, um desencontro da vida, de vidas
Nos aqui, em nossas posições iniciais
Naquele velho e conhecido jogo lento de xadrez
Que você nunca me deixou jogar...
Ainda te olho, juro que te olho buscando algo
Quem sabe a ti...
Mas nada mais, meu amor, posso sentir.

17 de julho de 2010

Desejar-te secretamente

Posso ingênuo rabiscar teu nome junto ao meu
Pensando que significa alguma coisa...
Mas não...apenas palavras soltas ao papel
Nós, a uma distância maior que uma palavra pode supor
Nós juntos apenas no meu mais tolo sonho de amor

Fácil é somente recordar dos dias
Em que espassadas vezes te vi
Passando despercebida
Linda! Sob o meu olhar que te perscrutava ao mais sutil dos gestos teus
Que no fundo, ah como queria que fossem meus!

Te ver, sem veres que por mim eras notada
Era a mais suprema graça
Poder olhar tuas minúcias
De forma insuspeita e recatada
Jamais imaginarias que por mim eras desejada

A contemplação bem pode ser a mais bela forma de amar
Apenas a visão se satisfaz para a absorção do teu ser
Outros sentidos, inertes ficarão
Sentindo apenas o que me causa tua distraída aparição

O movimento estranho de minhas mãos
Confusão causa em meu ser
Escondem-se por entre os bolsos, na cava dos braços
Abrançando-me aflito a perseguir teus passos
Enquanto o desejo por mim previsto
Seria o que tu bem sabes qual é
Queria um toque, um toque que fosse
Em teus negros cabelos
Mas meu fraco apelo não sai de mim para chegar a ti
As palavras saem difíceis, atrapalhadas se prendem entre os dentes
Enquanto tu, apenas sorris contente

Tem horas que eu digo basta e esqueço
Mas se vejo, estremeço
E esqueço que disse basta
E volto ao começo.


Nem sabes tu, oh louca em desvario,
Cheia de amores
Não menos repleta de dores
Que o meu amor é maior que o meu desajeito
E maior, bem maior que o meu peito.

15 de julho de 2010

Lista das minhas obras da alma

Bom, me mandaram fazer uma lista de 3 a 7 livros que “marcaram minha vida” adorei o apelo trágico rs então, vamos à lista e as suas explicações.

- Mario Quintana – Obra completa
Pode parecer um exagero, é isso mesmo, eu li a obra completa desse poeta em dupla com uma grande amiga minha, a Débora Queiroz, o que enriqueceu mais ainda a leitura, porque nós compartilhamos dessa leitura de uma forma muito agradável, ligávamos uma pra outra so pra comentar, assim que nos víamos na uece vinha à mente um poema ou outro, nossas conversas eram repletas e entrecortadas de Mario, portanto impossível esquecer a leitura e a troca intelectual com essa grande amiga

- Leite derramado – Chico Buarque
Um velho num quarto de hospital com uma pessoa aparentemente mais jovem ao lado com a qual ele rememora seu passado e preludia um futuro com ela, mas sem deixar de falar de sua esposa e de sua família. O livro me ganhou logo nas primeiras páginas por conta da entrega. A fala desarticulada e caótica do ancião cria dúvidas e suspense que prendem o leitor por se tratar de uma memória repetitiva mas contraditória, obsessiva mas esburacada. A esposa tão diferente mas mesmo assim adorada ao mesmo tempo que determina a paixão arrebatadora do marido, ocasiona a infelicidade dos dois.
Não sei por que você não me alivia a dor. Todo dia a senhora levanta a persiana com bruteza e joga sol no meu rosto. Não sei que graça pode achar dos meus esgares, é uma pontada cada vez que respiro. Às vezes aspiro fundo e encho os pulmões de um ar insuportável, para ter alguns segundos de conforto, expelindo a dor. Mas bem antes da doença e da velhice, talvez minha vida já fosse um pouco assim, uma dorzinha chata a me espetar o tempo todo, e de repente uma lambada atroz. Quando perdi minha mulher, foi atroz. E qualquer coisa que eu recorde agora, vai doer, a memória é uma vasta ferida.”
- Carta ao pai – Kafka
muito lindo, perfeito, identificação completa

- Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres – Clarice Lispector
meu primeiro e feliz contato com Clarice e foi um livro que mudou muito do que eu pensava, um livro que me ensinou sobre a vida, sobre o amor, sobre a essencia de uma relação de duas almas – Ulisses e Lóri

- Dom casmurro – Machado de Assis
a melancolia de Bentinho recordando seu passado e a dúvida nunca esclarecida me tocam, bem como a crueza do Machado, coisa que eu adoro e me traduz um pouco.

- Fragmentos de um discurso amoroso – Roland Barthes
Saindo da vertente literária, esse livro consegue me tocar de forma igual como uma obra literária, tendo em vista que Barthes desvenda por meio da teoria um pouco do que o amante com sua vista embotada pode ver do seu amado.

12 de julho de 2010

Uma volta ao pai

"A sombra de meu pai, tomou-me pela mão, porém nada dizia"
Viagem na Família - Carlos Drummond de Andrade
Pai, aí está você à mesa, posso ver agora...ao controle da tv, na rede à varanda solenemente olhas para o teto e contemplas a ti mesmo em silencioso diálogo travado nas tuas tardes sonolentas de funcionário público aposentado. Posso te prever em qualquer ambiente da nossa casa, conversando com um amigo sobre as banalidades do dia, sobre o campeonato e sobre pessoas que passam por ti. Ficas, com tudo, onde estiveres, com a imponência de um soberano que ocupa com autoridade e destreza a sua função de provedor, por vezes árdua, mas que tomas por gloriosa e por isso mesmo, inflinge o teu poder sem maiores preocupações com quem está ali...um súdito qualquer.
Nossa convivência: diária e silenciosa, numa distância como que íncomoda ao esperado por um pai e um filho.
Para suster segurança e controle do lar, és capaz dos gestos mas nobres( disso nunca duvidei) mas também de indiferenças (estas por sua vez, menos compreendidas) por mim em detrimento da afetividade, ingenuamente suposta em que se dariam os laços que nos unem.
Poucas palavras e muitas reclamações veementes aos ouvidos cansados de minha mãe, compõem o nosso laço tão atávico, quanto frágil (em pouco tempo se mostrou.)
Em algum momento, que por distraído que estava nos meus conflitos e livros e amigos tão incoerentes pra você, tomando-os de partida como alheios e por fim, desimportantes, geraram uma distância sem maiores precedentes aparentemente, a meu ver.
Tudo se deu na cumplicidade ignota dos anos vividos a pulso forte e cólera.
A esse ponto, vendo-te distraído, parece-me tão doce, quanto vago a minha precária apreensão do teu ser cansado, sabe-se lá porque dores nao assimiladas e resolvidas dentro em ti e dos teus óculos aperreados, dos teus bolsos cheios e papéis importantes ou de ralas notas, dos teus olhos tristes para o mundo e indiferentes para mim. Fomos assim. Assim nos acomodamos nos nossos compartimentos descompartimentados. Assim te rememoro, vaga recordação da nossa precária relação Pai e filho.