"A sombra de meu pai, tomou-me pela mão, porém nada dizia"
Viagem na Família - Carlos Drummond de Andrade
Pai, aí está você à mesa, posso ver agora...ao controle da tv, na rede à varanda solenemente olhas para o teto e contemplas a ti mesmo em silencioso diálogo travado nas tuas tardes sonolentas de funcionário público aposentado. Posso te prever em qualquer ambiente da nossa casa, conversando com um amigo sobre as banalidades do dia, sobre o campeonato e sobre pessoas que passam por ti. Ficas, com tudo, onde estiveres, com a imponência de um soberano que ocupa com autoridade e destreza a sua função de provedor, por vezes árdua, mas que tomas por gloriosa e por isso mesmo, inflinge o teu poder sem maiores preocupações com quem está ali...um súdito qualquer.
Nossa convivência: diária e silenciosa, numa distância como que íncomoda ao esperado por um pai e um filho.
Para suster segurança e controle do lar, és capaz dos gestos mas nobres( disso nunca duvidei) mas também de indiferenças (estas por sua vez, menos compreendidas) por mim em detrimento da afetividade, ingenuamente suposta em que se dariam os laços que nos unem.
Poucas palavras e muitas reclamações veementes aos ouvidos cansados de minha mãe, compõem o nosso laço tão atávico, quanto frágil (em pouco tempo se mostrou.)
Em algum momento, que por distraído que estava nos meus conflitos e livros e amigos tão incoerentes pra você, tomando-os de partida como alheios e por fim, desimportantes, geraram uma distância sem maiores precedentes aparentemente, a meu ver.
Tudo se deu na cumplicidade ignota dos anos vividos a pulso forte e cólera.
A esse ponto, vendo-te distraído, parece-me tão doce, quanto vago a minha precária apreensão do teu ser cansado, sabe-se lá porque dores nao assimiladas e resolvidas dentro em ti e dos teus óculos aperreados, dos teus bolsos cheios e papéis importantes ou de ralas notas, dos teus olhos tristes para o mundo e indiferentes para mim. Fomos assim. Assim nos acomodamos nos nossos compartimentos descompartimentados. Assim te rememoro, vaga recordação da nossa precária relação Pai e filho.
Nossa convivência: diária e silenciosa, numa distância como que íncomoda ao esperado por um pai e um filho.
Para suster segurança e controle do lar, és capaz dos gestos mas nobres( disso nunca duvidei) mas também de indiferenças (estas por sua vez, menos compreendidas) por mim em detrimento da afetividade, ingenuamente suposta em que se dariam os laços que nos unem.
Poucas palavras e muitas reclamações veementes aos ouvidos cansados de minha mãe, compõem o nosso laço tão atávico, quanto frágil (em pouco tempo se mostrou.)
Em algum momento, que por distraído que estava nos meus conflitos e livros e amigos tão incoerentes pra você, tomando-os de partida como alheios e por fim, desimportantes, geraram uma distância sem maiores precedentes aparentemente, a meu ver.
Tudo se deu na cumplicidade ignota dos anos vividos a pulso forte e cólera.
A esse ponto, vendo-te distraído, parece-me tão doce, quanto vago a minha precária apreensão do teu ser cansado, sabe-se lá porque dores nao assimiladas e resolvidas dentro em ti e dos teus óculos aperreados, dos teus bolsos cheios e papéis importantes ou de ralas notas, dos teus olhos tristes para o mundo e indiferentes para mim. Fomos assim. Assim nos acomodamos nos nossos compartimentos descompartimentados. Assim te rememoro, vaga recordação da nossa precária relação Pai e filho.
2 comentários:
foi Kafka que escreveu um livro para seu pai, que não aceitava que ele se dedicasse a literatura? se foi ele, foi outro grande escritor.
Seu texto tem moldes de desabafo, e de que o objetivo é mostrar a alguém, um alguém que precise ler isso.
beijos
se isso for sobre vc, sinto muito. a gente eh muito acostumado a ver a familia perfeita na televisão. axo q o mais importante eh ver as breves perfeições que compõem essa relação.
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