Aprendendo a ser

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Fá-lo-ei por eles e por outros que me confiaram as suas vidas, dizendo: toma, escreve, para que o vento não o apague.

18 de novembro de 2010

A obscenidade de amar

À Hilda Hilst, à sua obscena Senhora D e a Dom Casmurro (que sempre me inspira) e às duas primeiras, que me inspiraram hoje esse poema exasperado, como a velha debaixo do vão da escada, no luto por seu amado e o velho sozinho na casa, de capitu rememorando seus olhos de ressaca.

-Um vazio incurável
um cego nó
uma reviravolta no estômago
um viajante só...

- mas como? você não ama mais?

- sinto que não mais...
ou “não mais” com a mesma intensidade
é um quase nada...
(um “ai” sem vontade, 
que não se sustenta,
que não desperta dó
nem mesmo em quem me acalenta)

-ah!

- frágil demais...

- cara, que bom viu!

- não é bom NÃO!
porque eu só esqueci aquele amor
com amores vazios
e o que eu sentia era tão lindo
não merecia  esse fim

- ah...entendi...
pode ser...
mas o importante é que VOCÊ
saiu daquele estado!

- e de que adianta eu corroborar esse fato?
se até por esquecer me tornei inconsolável?
e, se estado pior de mim se aproxima?

- porque tu diz isso, o que ta acontecendo contigo?

- é porque eu não tenho jeito de amar a mais ninguém...

- onde tu ta?

- eu to no limbo...

- onde??

-sozinho.

onde?

-aqui...
DESLIGO o telefone...
não dou pelo meu amigo
quero ficar nessa euforia caótica
pedir uma vodka pro cara do bar
sentar e chorar
a dor que eu já não tenho
que me desfaz ao meio
por eu não ter mais o que dá.
A fragilidade do tempo
me impediu de viver esse amor ao extremo
como quando é interrompido o fluxo de um córrego
mas não tenho nem mesmo ódio
rancor, desilusão,
só tenho uma dor
que já não é dor,
é que passou...
e eu não sei que nome dá ao que, sem amor, não é dor...
febre sem causa maior
ave sem asa
e eu só!
com o farrapo da minha dor
um cinza turvo
um amarelo ovo
tinta sem cor
e pensar que um dia o meu mundo
a tua presença mágica tanto afetou
era capaz de,
sem ser pintor,
fazer-te aquarela
e do  teu corpo bonito (nu)
pintar-te até as veias
desnudar-te em uma tela
pois fazias parte do meu mundo mais alucinatório
os teus traços 
nunca óbvios
eram mosaico fluido
a variar de cores
só tu inspiraste poesia
fostes festa
nessa sala, hoje vazia...
E desde que estive contigo naquela noite fria
desde que rodei o prédio
subi andares
e tantas vezes desci...
e subi escadas
como náufrago
suspenso nos (m) ares
que vinham de ti
afetaste minha vida
como afeta um elétron uma carga de energia
o chão presenciou minha destruição
me entreguei à suja ferida
como bom canino
lambi, ela supurou
até que um dia
O distraído cão de tanto lamber a ferida
ela cicatrizou
e eu fui ter contigo
no vazio que restou
eu parecia um bêbado a variar no becos
uma criança cega a procurar brinquedos
um poeta insone a mastigar a dor
Picasso e seu mundo azul
pólen de roseira no deserto do Atacama
que de procurar plantação fértil
gruda na lama
buscava-te a boca
carnuda a saciar-me a sede
mas de agruras vividas
só encontrava seca
não, você não sabe...
andei por mil lugares a te procurar
mas descobri no fardo exausto do caminho
que exasperante estive
a procurar a mim.


Hoje calmo e taciturno
nesse leito frio
Finalmente
comigo me encontro...só, triste e velho
nem mesmo a brisa do alpendre acalenta o peito
Mais tarde, pálido,
no abandono do meu quarto
torno a ver-te o retrato
e vou ter contigo, sob nosso recato
rememoro nosso amor antigo
não sem falhas, é claro
A memória
essa amiga pouco sóbria 
Me visita por horas e horas
o tempo, inimigo, não me consola
abro o armário, avisto tua camisola
tu me convidaste a ela
nas nossas nupcias
de ti, nao posso me curar
vou aos remédios, 
que dizem ser paleativos
minha amargura, 
como o algoz que feroz castiga a fera
é tão indelevel
que a tenho aqui comigo
mas disfarço bem...

Vou recolher-me
que a hora já é tarde
e o dia já aurora 
e me principia a morte 

de amor, me sinto vazio
mas de ti, repleto
amada minha.

16 de novembro de 2010

Um Chapéu para o teu dia


Uma menina
Ferida
De mortal beleza
Tinha à sua volta o perigoso contato com a natureza

Essa menina
Ferida de mortal destino
Sob seus pés flutuantes tinha

O chão íngreme de um caminho
Atravessou um bosque e enfrentou tantos perigos
 

E sua ingênua cesta
Cheia de sonhos, bolos e vinhos,
(E nos vãos do caminho, alguns medos)
Mas uma floresta cheia de vida
(Lhe parecia um parque cheio de brinquedos)
 

E um frágil destino pelo meio
Que desbravar sozinha, iria
Sob sol inclemente
Um lobo sutil
Uma presa fácil

A quem fosse mais ardil

Enquanto isso, a encantada
Obnubilada...
De uma singela melodia
Dos ventos, das folhas, pra matar o tempo ela corria

E borboletas a distrair-lhe o passeio
Pelo bosque em que ia ao encontro da vóvó

E também dos seus sonhos, e quiçá pesadelos

Repleta de sensações
De olhar atento
Como quem nada conhece de tristeza, de desalento...

E ingênuo,
Anseia descobrir o mundo

E sua instigante teia
À procura do lobo
E do fim dos seus medos.

15 de novembro de 2010

Contemplação


Procuro na tua imagem a cena que me perpetua o desejo que me envenena.

3 de novembro de 2010

Das coisas mais lindas

Pra você que tem o bom gosto de amar as coisas lindas, daquela beleza que apavora, que a gente se contenta em somente admirar. Se aproximar não é possível, porque seria maculada.Aí está uma passagem de uma novela da década noventa( que eu aos nove anos assisti, é,eu gostava de novela, e pra voce como é isso da memória poética, eu tinha me esquecido completamente que essa música era a trilha sonora de Maria Santinha e José Inocencio e um pouco retrata o amor que ele tinha por ela.

 
Coisa linda...
É mais que uma idéia louca
Ver-te ao alcance da boca
Eu nem posso acreditar
Coisa linda minha humanidade cresce
Quando o mundo te oferece
e enfim te das tens lugar
promessa e felicidade, festa da vontade
nítido farol, sinal novo sob o sol, vida mais real
Coisa linda, lua lua lua lua
Sol palavra danca nua, pluma tela petala
Coisa linda, desejar-te desde sempre
ter-te agora um dia e sempre, uma alegria pra sempre

Eu tenho muita inveja do Caetano Veloso porque eu queria ter escrito essa música/poema.

Mas que eu também posso cantar a beleza...


Eu te abracei
Como o náufrago se agarra aos cabelos do (a)mar
E por dentro em mim
Vertia-se algo
Não era o corpo
E suas reações atávicas
Que causa o delírio do contato
Era a doce urgência da alma

Havia em mim
A leve embriaguez de uma taça de vinho a girar
E o torpor da atmosfera
Como se ninfas e Heras
Ao meu redor estivessem a brincar
E sensações infinitas
Toadas leves
Acordes breves
Me causavam a textura da tua pele
Como a canção que acaba de nascer
No ritmo da letra
Que feito bailarina
Dança ao vento
E me perpetua a delicadeza de uma vela acesa
(ou de uma lebre 
pela relva)

O peso do silencio estava sobre nós
As poucas palavras
As mãos desarticuladas
A falta de intimidade
Dava bruscos movimentos aos lençóis
Não, não era tu que eu desejava
Mas tua imagem
Embora eu tenha te apresentado a meu corpo
Que rígido tocava-te o dorso
Não era a ti, ó meu amor distante...
Casto
Imaculado
Eu te queria A ALMA!
Pálida
Leve
Lépida
A bailarina da festa
A Lolita delicada
A minha prece
(que mesmo triste)
Permanece intocada
Porque não importa as mentiras que foram julgadas
A verdade, É, embora estivesse  velada
E com a sacralidade de uma ermida
De uma mulher, à pouco, parida
Eu contemplava tua beleza (rara)
Eu não te queria como um trabalhador faminto
Quer um prato sobre a mesa
Eu te queria simples
Poesia dos meu dias
Era tanto..tanto o que eu queria ter te dito
Mas o que havia em mim, me deixava tão repleto
Que eu nunca, de todo, me explicaria

Eu parecia uma nuvem
A variar de cores
Mas as cores não eram luminiscentes
A variação só  ía do preto ao cinza
Te encarar eu não sabia
E nunca gostei de preto, que irônia!
Era o novo a assustar minha retina
E o medo a trespassar-me a espinha
Mas no fundo eu sabia
Que eras tu que, sim, que eu queria!
E viver um sonho
Faz tão bem à gente
Que de culpa Deus me redimia.