Aprendendo a ser

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Fá-lo-ei por eles e por outros que me confiaram as suas vidas, dizendo: toma, escreve, para que o vento não o apague.

25 de fevereiro de 2011

"No mais, estou indo embora, baby"*



Eu sei que estou longe de tudo
Até do velho criado mudo
Que no meu quarto
Se faz de mobília por fora
Mas por dentro, agoniza e chora
E comigo, guarda e recorda
Os meus segredos mais sórdidos

Os outros vão...
vagam!
vagão
vago
Há vagas.
E ofertas de emprego por toda parte
Consulto o relógio
Disfarço as horas
E aqui di-vago
No eterno devagar dos tempos
Por onde pairam loucos pensamentos
Que pros outros, filtro, me mostro sóbrio
Mas por dentro caótico
Enquanto espero com acidez de um morcego
Que velhas cartas as traças roam

O passarinho canta lá fora
Uma só nota
E ainda pensa que é cantor
Sem saber onde pousar
De teimoso
Pouso sem direção
Na mais próxima janela
Que vejo como uma tela
Que me chama atenção
E aguardo ofegante o pôr do sol

Deixa que os outros vãos de mim se escondam
Que a viagem, amigo,
Dizem que é longa
E parece que eu tenho tempo    
De folga
De sobra
E ainda tem o happy houer
Pra curtir minhas senhoras
Jogar minhas lorotas
E mentir horas e horas
Que é direito do funcionário público
Da gravata afogar a gola

Dizem sim, que eu tenho tempo
Afinal, são duas horas de almoço...
E de na vida, fazer grandes descobertas
E de sobra,
Ainda rola o vento pela tarde mórbida
Comigo ele faz hora
Levanta as saias das senhoras
E faz redemoinho com meus importantes papeizinhos
Que afogueado, eu recolho

De resto, eu tenho um velho brinco
Sobre a mesa perdido
Cuja borboleta voou
E de enfeite pro meu dia,
Pra minha beleza vazia
Nada me restou

Afasta, passante...sai do meio, minha gente!
Deixa os outros passarem nessa nave
Que entre as nuvens,
Mesmo sendo leves
Há encruzilhadas perigosas 

Cuidado nessa esquina!
Que eu vi ali uma menina...
Que por uma bobagem se perdeu
E até as roupas esqueceu
Pensando que o corpo lhe daria tudo
Mas um corpo nu
Só fragiliza o que era teu

A viagem é pouco nobre
A classe econômica é dose
Não tem água, nem coca-cola
Não tem uísque, nem vodca
pra facilitar o percurso
E esquecer do jogo, as bolas fora

O vento brinca com meus cabelos
Assanha meus pensamentos
Vira uns de cabeça pra baixo
Põe uns em cima dos outros
e o aviãozinho, de teimoso, 
Contra o vento ainda voa

Ah, essa viagem num acaba nunca
Sempre insólita, rasa ou profunda
Faça sua escolha de classe agora
Que ela é tudo!
E define até mesmo seus possíveis encontros
Seus possíveis transtornos
E pelos vagões, os que vão em pé
Sempre vivem mais profundamente
Pois sabem, com a serenidade de quem curte longas viagens
O que é ter os pés no chão
Enquanto os que vão olhando pela janela
Apenas a vida contemplam:
São os poetas!

Os outros, por mais que me acompanhem por longas horas
Sempre hão de ser mais passageiros que eu...
Porque por mim passam
E eu continuo preso a mim
Que já tenho cansadas as mãos
De tanto adeus que já dei

Se há saudade de algo em toda viagem,
Não são das malas
Nem das paisagens
Dos filmes de retrato
Nunca por mim revelados
A saudade angustiada é de mim!
Que aos sessenta anos de idade é impossível sentir
O que aos seis anos senti

Mesmo o vento que batia em mim
Não era o mesmo desse glacial inverno
Muito menos o olhar atento

É importante que seja irremediável
Que entre tantos solitários viajantes
Cujas bagagens por vezes
Às minhas se misturavam
Eu só me encontre hoje com esse velho amigo constante

4 de fevereiro de 2011

Indiferença habitual



Homens bebem a noite
E degustam a madrugada
O crepúsculo, a aurora, as sobras do dia
Enquanto o dia pros outros termina
O meu chora e agoniza



Esses homens de bar...
Matam as horas
Fogem de casa
Das mulheres programadas
A fogão e lavatório
Mulheres pesadas,
Nunca por eles arrebatadas
Sempre impacientes à porta
De braços cruzados
Feição morta 
E à noite se danam
Fazem tudo tão mal
Que aos maridos enfadam
Entre cheiro de alcóol
E muita cólera

Não vingam amores
Onde só há corpos
Que clamam no luto solitário
Por colo

Cachorros também transitam pelos bares...
Um pouco mais sóbrios que os homens, é claro
Demarcando territórios
Observando os homens
E que atentos olhos!
Mas nao ousam imitá-los, é óbvio!

Eu, calada
Também observo os homens
Essas crianças solitárias
Um pouco apática
Faço cara de safada
Esperando que um deles me pare
E a proposta óbvia me faça

Me movimento pela calçada
Que comigo espera
Cúmplice e desesperada
Consulto o relógio ordinário
Cumprimento e sento na mesa do otário
Ele pede uma cerveja vagabunda
Passo a mão insinuante por sua bermuda
O sugerido convite
Agora é fatal
Se precipita no instante em que minha mão o toca

Eu me destruo sob o lençol
Com minha indiferença habitual
Elogio-lhe o tamanho descomunal
Finjo
Finjo tanto
Finjo muito
Finjo mal
Ele não se importa
De eu tanto fingir
Ele goza

Cobro o serviço
Do absurdo preço ele reclama
E eu vou embora
Morta

Os faróis me assustam
Converso somente com os carros luxuosos
Que baixam seus vidros
E fazem nova proposta.

3 de fevereiro de 2011

Da Poesia

Descobri que poeta
Não é aquele que lamenta
Que se exorcisa pela dor
A alegria
Ao contrário do que afirma a maioria
Também é passível de poesia
Quem não sabe escrever sorrindo
Tampouco o fará chorando
Já que o choro embassa a vista
Então prefiro cantar minhas alegrias
Os tormentos deixo para o travesseiro
Que os abafa e os leva ao esquecimento.

2 de fevereiro de 2011

A gente não esquece as coisas que amou

Meu bem morreu.
E eu nada pude fazer
Senão lamentar, chorar
E endurecer esse coração
Que empedernido
Não aceitava tamanha desilusão 
Ah esse coração!
Entre tímidos sorrisos
Naquele prédio de colégio de bairro
Em ti se reconheceu tão rápido
Esse bobo coração...
Que tão cedo em ti reconheceu afeição
Um dia acordou esquecido
E como numa tela em branco
Já não suspirava por teu sorriso lindo

Mas é preciso paciência
O tempo que separa
É o mesmo que nos aproxima novamente
Por isso, meu bem, não te atormentes
O sol ainda passa sob nossas cabeças, inclemente

Meu bem morreu...
E eu que me julgava livre dessa afeição
...
Por anos
Obscureci tua imagem que na fotografia
De tão escondida
(ficou amarelecida)
E suspiraste numa tarde
Exasperado pelo fatal destino
Que te tombaste com vinte anos de idade

Os anos se passavam
Às vezes, ainda te buscava, mas nada mais tu me dizias
E em cada velho livro meu
Que mais fundo no armário
Afundava teu retrato
Um dia, quando eu menos esperava
EMERGIU

É que um dia houve a salvação que nos livrou do esquecimento
Houve uma canção...
Que somente Legião
Poderia escrever de modo tão preciso

Nossa amizade
Veio se confirmar
Nem cedo, nem tarde
Na exata hora de nos encontrarmos
Hoje chorei
Me surpreendi que tu permaneceu
É que te encontrei em “Love in the afternoon

1 de fevereiro de 2011

"Segredos de liquidificador, que só entende, quem for capaz de sentir amor" ou "Não entendo grego, só decodifico em linguagem, o amor" ou ainda "Os versos mais lindos que te fiz sairam dos detalhes que junto, vividos, nem percebemos"




 
Tão bom viver de amor

Se possível for

Mesmo que o tempo inclemente

Teste a nossa paciência, nos conteste

Tão bom entre o sono, um sonho vivido

Te ter ao telefone

Ao pé do ouvido

Eu durma acordado

Eu sonhe entre palavras

Eu balbucie bobagens

Eu te imagine do outro lado

E você sorria...

Você me conte suas historias

E eu aprecie

Eu te procure entre a folhagem

Entre o lençol

No espelho do quarto

Ou numa construção abandonada...

Eu viva a madrugada

Eu me exaspere com tua chegada

Eu me delicie com tua fala

Pra falar do dia, do que for

Da profissão, da escola

Ou pra falar de amor...

Coisa que na vida pouco fiz acompanhado 

 
Coisa que na vida sempre fiz só

Eu sinta as primícias

Da paixão incontida, concedida

Entregue e vivida 



O teu nome

Me faz todo sentido

E mesmo que não comece frase com pronome obliquo 

Tá tudo certo, tá tudo lindo

Pra mim agora, até os erros fazem sentido 

Teu nome

É associado a tudo que me lembra vida

Sossego, aconchego, comida

E tua presença me conforta mais ainda

É em ti que aconchego sono e cansaço

É em ti que esvazio o corpo

E torno a enchê-lo de pecado

É em ti que as pernas insinuante cruzo

Quero te ter como um credo 

 
Na cabeceira te rogo

Quero te ver no escuro

Pelo tato mudo

É em ti que calo

As palavras num beijo tácito

Cálido

Profundo 


Em ti deposito

Cada nascente do meu rio 

Que amor bonito,

Não tem foz, só leito
 
E em cada sentimento

trespassa um peixe

Que te trago de alimento

Limpo da minh’alma

Que já não é como outrora...um limbo

Está repleta
 
E às cinco da manhã nasce mais um dia

E  veja só! Ainda estou contigo!

E  mamãe ainda pergunta porque vivo dormindo
 
E ainda tenho que estudar grego, latim e o inferno

(de não te ter comigo)

Mas logo atinjo o céu 

Desde a véspera do nosso encontro

Até o dia

Me cubro de alegria.

Eu poderia mudar, de casa me mudar, com outra pessoa casar

Parar de estudar,

Padre me ordenar

Namorar a vizinha, a menina da esquina

Mas ainda sim estaria namorando contigo 

Alguém mais inteligente que eu já disse...

Que isso de namorar é estado de espírito

E  o meu está em ti

Expresso em cada beijo

 
Em cada novo ofegante desejo

Em cada ciúme incontido

Em cada cantada por mais que pareça ridícula

E em cada gesto adocicado.


Acredito e quero por muito tempo sentir isso.

Por isso vem logo, viver esse sonho comigo

Nunca fui piegas

Mas só quem foi capaz de se entregar a uma paixão

Entende os meus versos.