Aprendendo a ser

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Fá-lo-ei por eles e por outros que me confiaram as suas vidas, dizendo: toma, escreve, para que o vento não o apague.

4 de outubro de 2012

Pobre poema de um homem urbano

Quando eu era menino
Todos me achavam louco
De mil peripécias
De muitas pilheras
De muitas mulheres
De tiradas rápidas
De conversa fácil
Agradava a gregos e a troianos também
E no deboche das horas
Era feliz
E ria

Hoje, homem sóbrio,
Presumido sob o terno
Armani
Reduzido ao desconforto das relações pobres
Dos laços frouxos
Agrado aos espartanos, esses sábios lacônicos
Mil bolsos me atrapalham os planos
Os movimentos loucos, que contidos me prendem os instintos
De que preciso para ser um pouco
Humano!
Sapatos afogam meus inquietos pés
Que querem correr
Mas abafados, apenas suportam.
O corpo sem sol
Descolorido
A cabeça quente
Me atrapalha ter ideias veementes
As mulheres...as que passam na outra esquina
Que lindas!
Não dá tempo pra papo decente
Dá tempo somente pra convite de hora de almoço
Conversa rápida e motel barato com direito a troco
E elas sorriem, sim, pros meus bolsos
E que fascínio presente nos seus rostos

Os gases de pânico se impregnam  ao meu rosto, que rijo,
Já não faz piadas interessantes
E o carro que dirijo não sei pra onde, que destino!
Me desatino, me desfaço no sinal vermelho
A alma que, marcada, já não tece a mesma prece
A noite, calada, nem dorme de tão preocupada
Os ratos de esgoto
Esses sim passam pelo mundo cientes de si
Da pobre existência em que se encontram
Que lhes dá resistências aos venenos urbanos
Mas eu tenho um coração inquieto
Que bate dentro do terno
Essa armadura que me sufoca e me aperta
A gravata conta uma piada
E voa como se quisesse fugir da roupa

O sapato precisa ser engraxado
E ali sentado na cadeira enquanto outro homem ou menino
Pinta o que a sujeira do mundo descoloriu
E ali sentado na cadeira de ferro
Sou mesmo eu
E sou também outro.