Aprendendo a ser

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Fá-lo-ei por eles e por outros que me confiaram as suas vidas, dizendo: toma, escreve, para que o vento não o apague.

3 de novembro de 2009

Das verdadeiras inclinações


Corri...
Para alcançar o que?
Você!
Se adiantou?
Tu ouviste minha chamada?
Nada!
Senti a brisa no correr exasperante?
Não deu tempo, a ansiedade tornou-me tudo inconstante.
E eu perdi o momento de antes
Sorri!
Nos olhos coagulavam e se perdiam lágrimas frementes
Palavras de desespero se prendiam entre os dentes
Ouviste?
Sorriste...dando um tchau displicente,
Desconfiavas ao menos da breve felicidade que me provocava um sorriso teu de me ser pertencente?
Se voltaste, num breve instante para mim...e eu que já julgara tão importante tua pequena atenção...
Mas não!
Outra voz se intercalou a nossa muda conversação...
Porém a atenção que tu deste a ela foi de uma inclinação total
E em pequenos instantes voltamos a nossa posição inicial
Num tabuleiro as peças estão sempre no mesmo local
E tu de costas para mim como era habitual
Mal!
Nada mal para uma partida há tempos prevista
A direção?
Não mudamos caminhos decididos
Por aparições repentinas
Tolice? Rigidez?
Quem sabe se tudo fosse tão flexível nos perderíamos mais ainda

14 de julho de 2009

Da aprendizagem de ser solitário

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De repente as coisas não precisam mais fazer sen­tido. Satisfaço-me em ser. Tu és?
Tenho certeza que sim.
O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência.
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Mas ao mesmo tempo tudo é tão fugaz.
Eu sempre fui e imediatamente não era mais.
O dia corre lá fora à toa e há abismos de silêncio em mim.
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Sou feliz na hora errada. Infeliz quando todos dançam
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Saber desistir. Abandonar ou não abandonar
— esta é muitas vezes a questão para um jogador.
A arte de abandonar não é ensinada a ninguém.
E está lon­ge de ser rara a situação angustiosa em que devo de­cidir se há algum sentido em prosseguir jogando.
Serei capaz de abandonar nobremente?
ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça al­guma coisa?
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13 de julho de 2009

Do desgastado Cotidiano

Me deram um nome
e me alienaram de mim
Clarice Lispector


Da primeira vez que me assassinaram
Perdi um jeito de sorri que eu tinha
Depois, de cada vez que me mataram
Foram levando qualquer coisa minha
Mario Quintana

Muito embora eu ainda fosse, em algum lugar desse tao conhecido rosto a que eu frequento a tanto anos todas as manhãs ao ir quase que mecanicamente, conferir em tom grave se algo nele se modificou, a mesma menina inquieta, de olhos vivos, rápidamente vivos, vivos e inquietos, como quem deseja descobrir o mundo, parece que a cada dia alguma expressão minha foi-se modificando sem que eu me desse conta, e em lugar dela uma outra expressão fosse pouco a pouco tomando lugar dela, e eu fosse me esquecendo a cada dia dos meus antigos grupos gestuais, vou deixando mesmo com o tempo, meus velhos conhecidos por novos atrativos cotidianos, sejam pessoas, sentimentos, paisagens porque passo . Enfim, deixo tudo, deixo a mim e não sei mais de mim. Nem em que lugar ficou perdido meu mais doce sorriso.

14 de junho de 2009

Da Imperceptível Sedução

                                 é que foi tudo tão instatâneo que acho eu perdi o momento


Começou assim, sem mais porquês. Eu sorria. Tu dizias qualquer coisa que mesmo incompreensível para mim naquele momento, era como canção que entoava-me, enebriava-me de tal forma que não me permitia qualquer reação antecipada e eu, no meu tonto devaneio, ah, apenas sorria-te um sorriso de complacência e devoção e entrava encantada na tua inocente ou perversa brincadeira de enlinhar-me ali nas tuas mãos de movimentos fáceis..que ameaçavam-me tocar, mas nao se encorajavam ainda...pequenos movimentos, quase imperceptíveis, gestos sutis, sorrisos inconstantes. Por vezes, parecia-me triste teu olhar, outras vezes inquiridor a me perscrutar algum gesto a ti e eu impassiva, séria, contrita.... 'podes dedilhar-me a vontade que não tirarás uma nota sequer de mim' Era Hamlet que me evocava naquele momento: orgulho talvez? nao....dignidade.
Já dei demonstraçoes suficientes...que mais queres de mim? não posso entregar-me ainda..tenho medo, medo de me perder...porque algumas pessoas, acho que simplesmente se perdem realmente, seja no shopping, no centro da cidade, ou simplesmente umas nos braços das outras e nem sempre encontram saída meu bem.

Se tu me olhas vagamente, ou num rápido lance que mal percebo, como saberei o que és, o que tão cautelosamente escondes de mim? Nao..não escondas nada de mim, meus sentidos me dizem coisas que tu jamais ousarias me dizer. E teu instangante apelo sobre minha pele também me diz muito das tuas escusas intenções, portante não me fale dos teus sentimentos, eles ainda estão em feitio desordenado, se fazendo pela pura cognição das intuições, dos cheiros, do contato arredio, cauteloso e ao mesmo atrevido...atrevido que tu és. Não sei se gosto ou não. Só sei que sofro a tua espera, a tarde nunca é a mesma quando estás comigo. Passa como num ressonar de criança: sereno mas um tanto ofegante. A contradição pura se interpôs entre nós: tu me lançaste um desafio: descobrir o que queres de mim. Nem tu sabes o que queres de mim. Permitirei que tu descubras. Não. À tarde, à tua procura, esperarei que se desenlasse aos poucos tua trama.



11 de janeiro de 2009

Do abandono das causas perdidas

Por que aquele champanhe jamais foi aberto. Aquele reveillon passou em branco. Eu pedi pra você pagá-lo no freezer, mas ficou ali, meu amor..e a gente nem percebeu que o tempo já passou..pra ele...pra nós...
Se você um dia qualquer...voltando do trabalho ou mesmo passando ali por perto e quiser entrar, não invente desculpa nenhuma, não precisamos disso, querendo voltar àquela antiga casa de bairro, não se acanhe, querido, que um dia ela foi castelo onde plantei os mais sublimes sonhos, no entanto, olhando hoje, me parece tão igual a todas as outras daquele bairro de classe média e mexendo nas coisas que ali ficaram esquecidas, limpando a poeira da maçaneta, as minhas mão saíram sujas![inevitavelmente] Eu não sairia dali a mesma e abrir aqueles armários, esquecidos e corroídos pelo desmazelo que o tempo deixou,
ah, por favor...não repare na desordem, cuide [pelo menos de você] e não me censure...achando que de tudo eu me esqueci.[Infelizmente] eu não me esqueci! Eu pedi...tantas vezes eu te pedi...que você fosse ali, o pegasse com a atenção e a convicção que eu esperava de ti e quantas coisas mais eu esperei em vão de ti, não..eu não esperava que você não me decepcionasse, com certeza isso iria acontecer em algum momento e nem iria me surpreender, mas esperei um pouco mais de cuidado, esse cuidado inocente de quem vela a coisa amada e nós não estaríamos perdidos um do outro, dessa vizinhança que tão bem conheceu aquela felicidade e não estaríamos hoje [inutilmente] construindo outros sonhos em outros fantasiosos castelos tão de areia como esse se transformou.
Ande calmamente pelo jardim que eu tão bem cuidava, e que toda a vizinhança tanto admirava. Que o nosso jardim já foi o mais bonito, o mais florido...então, vá ali...regue as plantas na varanda, ao menos elas haveriam de resistir...
Pensei, se a gente se encontrasse...quem sabe...tudo voltasse, mas não, você apenas leria o meu olhar, tudo quanto ao contrário eu tentasse inutilmente te mostrar.