eu te seria grato, vida,
caso
não fosses (dí)vida
que penosamente tenho pago
se tivestes tão logo me deste o fôlego,
de que necessito para suportar o gozo
tivestes me dado a chama pra (revidar) as farpas que me inflamam
tivesse me dado a calma
pra conter as dores que me trespassam a alma
tivesse me dado amores,
mais calmos
menos ferozes dores
me dado uma natureza mansa
não essa descompensada
que fácil demais se zanga
tivesse contido a fala, o choro, a angústia
o vazio da vazia sala
o sofá de luto
a TV de esperança
a estante de festa
não fosse minha herança
que se expandisse a fresta
embora por vezes a luz me cegue
e não a solidão
das salas de espera...
Ah! as preces repetidas
desacreditadas de sua valia.
as festas, os holofotes..
da casa, os dias fora
do pesado convívio, a fuga
não me pesasse tanto
o silencio entre nos instalado
não fosse mais forte
um sim, um não
um suspiro de enfado
meu sombrio quarto
e cada ente da família cada vez mais afastado
os remédios pra dormir
o inclemente sol do meio dia
os sorrisos sem graça
as lágrimas disfarçadas
de que ninguém ri, as piadas
o medo do futuro,
que já o cobre de luto
que o medo no princípio
é até boa medida
pra quem não quer ficar bêbado
mas o medo
tempo e tempo
tira o sabor de qualquer fruta
e o torna azedo
o medo do futuro,
a ventura não suporta
preciso de uma cura.
preciso de uma cura.
Um comentário:
Eu poderia cantar esse poema... E depois tomar umas vodkas...
Gostei de doer... poucas palavras hoje.
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