Aprendendo a ser

Minha foto
Fá-lo-ei por eles e por outros que me confiaram as suas vidas, dizendo: toma, escreve, para que o vento não o apague.

26 de dezembro de 2008

Do Tempo e de outros esquecimentos

Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
Mário Quintana

Ouça-me bem, amor
Preste atençao, o mundo é um moinho
vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó
Cartola O mundo é um moinho

Hoje olhei tua foto, tu não eras mais o mesmo, e eu, quem era? com apuro e com cuidado, como mandou o meu coração, como o compositor que escolhe minuciosamente a palavra pra canção,que é sua vida! eu procurei, procurei, encontrar-me contigo de novo, confesso que não te busquei com o mesmo ardor de outrora, é verdade, de quem idolatra a coisa amada, mas com o cuidado (que talvez contenha um quê de amor) de quem procura recuperar algo que o escapou vagamente no passar impiedoso dos dias e não imagines, meu bem, o espanto que me tomou a saber que tu, não eras tu.Confesso, busquei, busquei aquele sentimento, nos teus olhos, tua boca, teu tão amado sorriso, se ele ainda estava la, a me encantar em algum lugar recôndito do meu ser. Talvez o recalque o tivesse impedido de se mostrar vigoroso com fora um dia, mas eu me desarmei, procurei nas lembranças mais singelas teu afago no cabelo. E o assombro que me tomou de não encontrar vestígio que fosse da tua lembrança mais agradável foi como o susto de perder o fôlego inesperadamente. Porque com aquele sentimento uma parte minha foi amputada e eu presumo pesadamente ser do coração e esta, uma vez arrancada jamais se recompõe.

Da tua figura, eu sei, jamais esquecerei, mas do sentimento, e quando ainda do sentimento, pelo menos da intensidade dele e tudo um dia se passará sob a tênue linha da indirença. Tua voz antes sentida à distância, hoje..perdão! não mais é que um falar comum do estranho que passa ali na esquina a cumprimentar-se em tom displicente, que não carrega sentimento algum e nada mais me diz que um bom dia fulgas. Uma conversa que outro dia tu começaste displicente comigo, mas cuidadoso no trato de cada palavra que tu ingênuo ainda temes me causar qualquer vaga reação...não causou nenhuma emoção mais assim, ah e eu que nunca queria que algum dia nós tivéssemos uma conversa superficial. Eu apenas reagia aos teus espaçados estímulos, em outros momentos apenas balançava a cabeça em sinal de confirmação e tu foste morrendo também com a minha pouca reação que a tua convesa ao falar das amenidades do dia me trazia nada mais que tédio. Preferiria sofrer de amor que sentir-se indiferente, ouvira um dia essa frase e ela como num milagre dos pães se transformara em tantas palavras que embora perdidas um dia que serão, foram ditas e sentidas e isso já é muito por esse ainda pulsante coração, e isso já as eterniza, já nosso amor, é apenas um leve sopro que se extinguiu ao primeiro vendaval e se perdeu nas paragens do tempo, quem sabe um dia ele dobre alguma esquina em novo vigor e atinja certeiramente um coração quiçá tão sensível quanto o nosso foi um dia e tomado por nova força atinja um coração virgem e plante nele a tal da ilusão que nós, a muito, já teremos perdido.


O nosso amor se transformou em BOM DIA!!!

comigo nao seria diferente...

21 de dezembro de 2008

Que ja não é domingo...já é outro dia

E me entristreço com tardes de domingo em qualquer canto da terra.
Milton Dias

Hoje não sei se por ser domingo,
E que o domingo me lembra uma triste despedida
Que a vida é, que é a vida
Mas que nos domingos ela é mais
E as tardes então são um cais

Que me deu uma saudade das pessoas que eu perdi
Por não saber preserva-las
Ou elas a mim,
É...sentindo saudades, sim...
De todos, de mim
Dos amigos que se foram,
Mas que nem sei porque estão aqui...
É, ainda estão aqui.
E mesmo quando eu não quiser
Eu vou lembrar deles
E quem sabe eles de mim
Mesmo que eu os deconheça
E que eu me esqueça de como eram enfim
Do que faziam pra eu sorri,
Dos seus retalhos, dos seus frangalhos que se juntaram aos meus
Fazendo um cobertor
E como todos os cobertores, acolhedor
Que me diziam, no aconchego de um sorriso
Que eu não estava só
Eu não estava só

Que eu não fiz na intenção de um poema
Mas que magicamente em um esse texto se transformou
Que a poesia é o começo de tudo
E os meus sentimentos que pra transformar eu luto
Não mutam, continuam firmes, perseverantes a acreditar
Que ainda há, que ainda há em quem confiar
Se a minha rima não é rica, não me condenes no meu mal poetar
É sentimento puro
Mesmo eu não sabendo expressar

Eu vivo em carne viva, por isso procuro tanto dar pele grossa a meus personagens. Só que não agüento e faço-os chorar à toa.
(Clarice Lispector)

17 de dezembro de 2008

De um remoto Eu

Se só me faltassem os outros, vá, um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.
Machado de Assis



pensei um dia doces sonhos de minha infância
Que as coisas boas me durassem toda a vida
Mas fui perdendo minha pequenas coisas boas sem me dá conta
E quando então, me dei conta, enfim me olhei
Não fui aquela que um dia desejei
E pelo braço, a mim mesma me tomei...
E no espelho, a mim, me reparei
Triste esboço de uma figura perdida

Me perguntei a mesma em vão...
Em que porão, em que rosto, em que esquina, em que portão...
Ficou perdido meu mais doce sorriso?
Ficou partida minha máscara mais antiga?
Virou espanto minha face envelhecida...
Virou doença minha alma partida
Virou cansaço minha busca nunca encontrada

E nos desenhos de criança eu me recordo
Sempre o sol amarelo a brilhar
E algumas aves no papel a voar
Se perderam como eu em cada idade
Que ja nao era a mesma daquele ano
Respondia pelo mesmo nome é bem verdade
Mas não se engane, meu nome já não é esse
Se ainda respondo pelo nome que chama, não é por convicção, é por pura comodidade

O futuro pesa toneladas sobre mim

Clarice Lispector

Talvez seja por isso mesmo que eu gosto mais de falar do passado...

14 de dezembro de 2008

Vivia tranquilamente
com esperança singela
tudo corria bem
a beleza era amiga dela

mas um dia sem querer
encontrou um belo rapaz
Parecia ter sido um encontro preparado
desses presentes que a vida
nos oferecem com se fossem planejado

tudo havia em comum
sorriso largo no rosto
brincadeira de alegria
um destino entrelaçado
pelas doces coincidências da vida

mas se sabe que quem ama
de vez em quando questiona
será que a amo tanto?
para passarmos a vida juntos

seu olhar o traiu em um momento cruel
e foi buscar outras venturas
desprezando aquele amor fiel

ela não quis acreditar
que o castelo desmoronara
mas via dia a dia o olhar dele se afastar
tão longe que chegou um tempo
em que ela não mais pôde alcançar

ele estava longe
agarrado a lábios que nunca quis beijar
só pela fria curiosidade
que o novo chega a despertar

ela também se perderia
em braços que nunca quis abraçar
mas teria que seguir a vida
então tentou a outro aceitar

se ele arrependera?
Isso resta saber...
Mas no peito de um
O outro vive a sofrer

Seus destinos ninguém sabe
Se perderam na vida a toa
Poderiam ter vivido um do lado do outro
Mas a dúvida impregnou suas almas de amargura e desconsolo

Conto essa parte da minha vida como um marujo conta seu naufrágio
Machado de Assis - Dom casmurro

11 de dezembro de 2008

Uma névoa de tristeza
Uma mágoa de saudade
Um sorriso sem beleza
E um choro sem vontade

Minha alma chora a queixa do abandono a dois
A solidão dos outros é o que pesa sobre nós
você me beija e logo após
desola um olhar distante
como se estivesse questionando
a sorte daquela escolha

Sabes, a escolha foi tua
mas questioná-la é impeto dos mortais
como se o mundo nos levasse para onde não quisessêmos
e depois amargurassemos nossa fraqueza em aceitar

Se essa moça não te agrada
e não é bem o que esperavas
o que esperas pra deixa-la ?
talvez outro venha consolá-la

Se não vier...o que importas?
Não te preocupes com a sorte dela
Ela terá o conforto nobre
Das lembranças do que viveram

Se uma outra te tocar
Com ternura igual a dela
Não demonstres comoção
Pela lembrança que tiveres

Fuja dessa lembrança
Como a água escoa no mar
Tu fostes barco à deriva
Que nunca quis aportar

Se vires em noite serena
Uma vela em pleno mar
Saibas,
É a esperança dela em ter-te de volta ao lar

Não fujas dos teus sonhos
nem sofra com causas perdidas
é sofrimento inútil
que sucumbe e só aprofunda as feridas

9 de dezembro de 2008

O Crucifixo

Era algo exagerante, mas não esqueças que era a emoção do primeiro amor
Machado de Assis
À principio, eu só conseguia distinguir por entre a gola da farda, um cordão preto. Nada mais. Nossa distância afetiva, que implicava em distância física, não me deixava ver mais nada. Mas esse fio preto dentro de sua blusa, misturada aos seus pêlos e, principalmente, perto do seu coração despertava em mim uma curiosidade incomum. O cabelo preto, os olhos pretos, pequenos e inquietos como quem anseia experimentar o mundo, o fio do cordão e a linha tênue entre mim e ele
Sentavámos juntos na mesma fila da sala de aula. Eu nao frente, ele atrás. Não sabemos, mas às vezes essa linha tão sutil entre o eu e o outro, entre o interesse e a indiferença, entre o amor e a amizade, só precisa de um simples passo para se desfazer. E essa linha de fato se desfaria à medida que nos aproximávamos.
Dia a dia a curiosidade se aguçava. Trocávamos sorrisos fugazes, olhares fugidios, procuras indecisas, palavras entrecortadas por silêncio contrangedor. Olhos pretos. Pequenos. 

Certa dose de uma malícia inocente. A curiosidade exacerbava a vontade de saber, de ir além daquela blusa, de encurtar nossa distância, de atravessar aquela sala, de descobri o olhar que se escondia por detrás daqueles óculos, de desvendar aquele mistério que me perturbava. Eu só queria saber que pingente estava pendurado na ponta daquele cordão. Só isso.
Foi-se chegando. Cada toque, uma nova sensação. Cada sorriso, uma esperança. Eu corria, eu chegava cedo. Eu passei a sentar atrás. Nossa! Aí eu dei muita bandeira. Eu fiz amizade com seus amigos. Eu queria vê-lo. E o cordão agora, era apenas uma desculpa. Eu já quase que podia distinguir aquele volume à altura do peito. Ele brincava, se esquivava, punha e tirava os óculos, conferia a carteira, me olhava como quem promete algo, mas não garante se vai cumprir. Tocava no objeto, puxava novamente o cordão para dentro da blusa. O olho era pequeno e ele fechava mais quando ria. Minha avó sempre dizia: "tenha medo de homem com olho pequeno!" Eu ria, eu me divertia, eu me envolvia cada vez mais nos laços daquele cordão. Parecia não ter fim a minha espera. Quase que se formava na minha mente relutante o formato daquele objeto, sempre tão perto do coração dele. Eu me consumia no meu processo de negação...Eu dizia para os outros: "É apenas um amigo" E para mim mesma: "É apenas uma curiosidade" Nada mais. Nos meus pedidos, eu pedia muitas coisas, mas temia pedir uma: o amor. Os pedidos dele, que talvez estivessem ligados àquele cordão sempre tão bem protegido, eu não sei, seus receios detectados por seus movimentos inquietos, também não.
Distraído, um dia, ele tirou o cordão de dentro da camisa e abaixou a cabeça como quem conversa intimamente consigo mesmo. O objeto era escuro, envelhecido, de madeira resistente. Uma cruz. Será que esse símbolo sempre carregará o peso de estar ligado à dor? A história que estava se anunciando prometia romper com isso, acreditava eu. A cruz casando com uma barba rala que anunciava timidamente entre umas poucas espinhas davam um aspecto muito bonito àquele rosto em formato romano.
Minha ansiedade aumentava, nossas afinidades me estimulavam. Eram tantas coisas em comum. Queríamos passar para o mesmo curso no vestibular, tínhamos o mesmo signo, erámos bons e solicitados pelos amigos no colégio. Nos entendíamos nas brincadeiras. Ríamos juntos, Até planejávamos trabalhar juntos ja que a profissão seria a mesma. O sorriso, antes fulgás, tornara-se largo e franco, o olhar fugidio agora encarava . O silêncio entre nós nao mais existia. O que antes era dúvida, transformara-se em certeza. Eu queria ir além, além de uma simples curiosidade. O motivo dessa curiosidade não mais existia. Nos meus pedidos agora, havia seu nome. Seu nome tornara-se doce, tão doce na minha boca, mas não sabia eu que ele também estava se tornando doce na boca de outra. E aquele crucifixo, que foi sendo descoberto com meus sentimentos jamais chegaria perto do meu coração como chegou do coração dessa outra, e eu constatei, amargamente, que a cruz continuaria carregando o estigma de alguma dor.