pensei um dia doces sonhos de minha infância
Que as coisas boas me durassem toda a vida
Mas fui perdendo minha pequenas coisas boas sem me dá conta
E quando então, me dei conta, enfim me olhei
Não fui aquela que um dia desejei
E pelo braço, a mim mesma me tomei...
E no espelho, a mim, me reparei
Triste esboço de uma figura perdida
Me perguntei a mesma em vão...
Em que porão, em que rosto, em que esquina, em que portão...
Ficou perdido meu mais doce sorriso?
Ficou partida minha máscara mais antiga?
Virou espanto minha face envelhecida...
Virou doença minha alma partida
Virou cansaço minha busca nunca encontrada
E nos desenhos de criança eu me recordo
Sempre o sol amarelo a brilhar
E algumas aves no papel a voar
Se perderam como eu em cada idade
Que ja nao era a mesma daquele ano
Respondia pelo mesmo nome é bem verdade
Mas não se engane, meu nome já não é esse
Se ainda respondo pelo nome que chama, não é por convicção, é por pura comodidade
O futuro pesa toneladas sobre mim
Clarice Lispector
Talvez seja por isso mesmo que eu gosto mais de falar do passado...
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