Novo formato, nova dimensão, uma máscara a encobrir a face, sair de si...ser o outro, chegar ao outro sem tantos receios. Liquidifica-se o que se foi até então e outros padrões bem como não-padroes assume-se em quatro dias em que o mundo parece acabar em orgias, bebedeiras e folia. Sem preconceito. Tudo para aliviar as tensões. Poucas festas previstas no calendário anual são vividas com tanto entusiasmo como o carnaval.
Una a persona à festa da carne e se tem resultado de que as quarta-feiras de cinza tem mais que motivo de serem pesadas. A ressaca nao é só de bebida, mas moral, os comentários tem ser superficiais para nao sair do enredo da festa, os cansaços dos mais variados, desde dias emendados por noites até ressacas mal recuperadas em sargetas.
A persona entra em cena e o mais primitivo do ser também.
O divertimento do carnaval advém justamente do vazio no qual ele é pautado. Um vazio sem precedentes, que vem de muito tempo, que vem de antes do silêncio em que o universo pairava até o mundo ser criado e outros silêncios tomarem conta do silêncio do que só era uma possibilidade de existência para depois existir solenemente silencioso, buscando encobrir esse silêncio a todo custo.
É contra o silêncio constrangedor que há dentro de si e do silencio das respostas mal dadas, incompletas que o homem luta até hoje, buscando para isso, um barulho qualquer, que por quatro dias o ponha esquecido de seu reinado solitário.
Amanhã amanhecerá noturnamente um dia que carrega o luto dos que morreram na sede de viver pensando que viveram por sair de si para entrar no cerne da vida, para sentir a carne de outrem.
Ânsia de tocar a vida. Tocar a vida não é tocar o mundo. Não se pode confundir um conceito abstrato com um concreto, mesmo que o concreto pareça a demanda direta do abstrato. Não o é.
Tocar a vida é buscar em si o sentido da vida para si, não conhecer o mundano para sentir-se vivo por meio de outro.
Daí surge o conforto de buscar suas leituras esquecidas, suas bíblias guardadas, seus trabalhos, retomar a vida que lhe pareceu ofegar em extase naqueles dias de uma semana perdida.
Uma significação para a vida há se buscar e se perdoar benevolentemente para os grandes feitos do carnaval. O homem confrontando-se consigo mesmo para resgatar-se: vencer a preguiça adqurida pelo ócio, dá notícia aos parentes que está vivo, que o mundo nao acabou depois do carnaval e que ainda resta uma fita..bem ali, veja só, num fio de alta-tensão a balançar esperando o próximo ano a folia recomeçar
Buscar a resposta nos mortos? Quantos filósofos, não? literatos...auto-ajuda, revistas, conversas de botequim, discussões acadêmicas giram em torno das significaçoes que o homem busca para suas demandas interiores. As externas são fáceis de suprir. Mostrar, sorrir, falar, pular, dançar...
Mas dentro, o que verdadeiramente há?
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