Aprendendo a ser

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Fá-lo-ei por eles e por outros que me confiaram as suas vidas, dizendo: toma, escreve, para que o vento não o apague.

4 de fevereiro de 2011

Indiferença habitual



Homens bebem a noite
E degustam a madrugada
O crepúsculo, a aurora, as sobras do dia
Enquanto o dia pros outros termina
O meu chora e agoniza



Esses homens de bar...
Matam as horas
Fogem de casa
Das mulheres programadas
A fogão e lavatório
Mulheres pesadas,
Nunca por eles arrebatadas
Sempre impacientes à porta
De braços cruzados
Feição morta 
E à noite se danam
Fazem tudo tão mal
Que aos maridos enfadam
Entre cheiro de alcóol
E muita cólera

Não vingam amores
Onde só há corpos
Que clamam no luto solitário
Por colo

Cachorros também transitam pelos bares...
Um pouco mais sóbrios que os homens, é claro
Demarcando territórios
Observando os homens
E que atentos olhos!
Mas nao ousam imitá-los, é óbvio!

Eu, calada
Também observo os homens
Essas crianças solitárias
Um pouco apática
Faço cara de safada
Esperando que um deles me pare
E a proposta óbvia me faça

Me movimento pela calçada
Que comigo espera
Cúmplice e desesperada
Consulto o relógio ordinário
Cumprimento e sento na mesa do otário
Ele pede uma cerveja vagabunda
Passo a mão insinuante por sua bermuda
O sugerido convite
Agora é fatal
Se precipita no instante em que minha mão o toca

Eu me destruo sob o lençol
Com minha indiferença habitual
Elogio-lhe o tamanho descomunal
Finjo
Finjo tanto
Finjo muito
Finjo mal
Ele não se importa
De eu tanto fingir
Ele goza

Cobro o serviço
Do absurdo preço ele reclama
E eu vou embora
Morta

Os faróis me assustam
Converso somente com os carros luxuosos
Que baixam seus vidros
E fazem nova proposta.

4 comentários:

Paulo Henrique Passos disse...

só quem não é indiferente aí são os cachorros...

o foda é que ela morre várias vezes durante a noite e é sempre a mais viva no olhar dos homens.

Thiago César disse...

bela poesia narrativa!
muito criativa!

lucas lima disse...

o sociedade que te repetes!

CA Ribeiro Neto disse...

Texto muito bom, parece que com muita influência de chico.

Um dia ouvi falar que as almas dos cachorros foram, em vidas passadas, de humanos que violentaram mulheres. Por isso os cachorros seriam tão apegados aos humanos, como para lembrar de sua vida passada e também por isso alguns cachorros tem mania de seguir mulheres nas ruas.