Aprendendo a ser

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Fá-lo-ei por eles e por outros que me confiaram as suas vidas, dizendo: toma, escreve, para que o vento não o apague.

27 de setembro de 2008

Da bravura derrotada

"Mais cresce a luz, mais aumentam as trevas das
nossas descgraças. "
Shakespeare, Romeu e Julieta,


Se havia de me ser tão grata
A surpresa que naquele dia se faria
Também haveria de ser triste
A lembrança que a surpresa traria

Uma andorinha a voejar miha janela
Entrou no quarto se pusera a pular
Por entre os móveis brincava alegremente
E eu ternamente a lhe olhar

Eis que outras asas pairaram sobre o ar
E num susto que eu mal pude controlar
Um morcego a viria atacar

Brava andorinha!
Se pôs a lutar
E o morcego que as artimanhas da caça tão bem conhecia
Em poucos instantes
À andorinha desferia

Minhas mãos desesperadas
Puseram-se a lutar
Mas o ar tão maior que as minhas forças
E o morcego levara sem esforços
A andorinha, que em inocência juvenil
Trazia a mim um pouco de alegria.



Das dores alheias

A dor do outro que fosse dor profunda
Doeria em mim
Que sempre me sensibilisou o sofrimento alheio
Mas que a cruz do outro nao se faz minha
E ajudá-lo a carregar e ato de nobreza
Mas carregá-la é a extrema pobreza

Quando mais tarde, reerguido
Finalmente se revela quem tu eras
Espantada eu descubro ser em vão
A fiel ajuda que meus braços te deram
Eu sinto que a amizade foi um leão
Leão altivo que nem um sorriso emprestara
Quanto mais uma tola retribuição

Da finitude das coisas

Tudo acaba, isso é uma velha verdade, leitor. Nem tudo que dura, dura muito.
Machado de Assis

Andei revisitando meus guardados, meus papéis antigos, escritos e reescritos, minhas fotos antigas daqueles rostos tão bem conhecidos e daqueles que eu nunca mais vi, e daquele que eu poderia tão bem definir, mas que me aparece desbotado como imagem envelhecida, talvez o meu...
aquele rosto vivo e sorridente foi morrendo nas fotos que eu guardei, esquecidas nas gavetas tão perdidas do meu quarto que em bagunça transformei.
Se existe uma causa de ficarmos mais sentimentais no dia do nosso aniversário, eu nem sei, mas que algo diferente ocorre nesse dia, disso eu não posso escapar.
Esperar que os outros venham a se lembrar do dia no meu nascimento é o maior presente que a gente espera ganhar nesse dia.
Telefonamas, mensagens de que eu nem esperava mais nada, visitas com abraços de carinho, sorrisos paralelos e tímidos, coisas que me fizeram mais feliz. Eu preciso de tão pouco pra ser feliz e isso as vezes me espanta, porque me faz pensar que eu sou de alguma forma medíocre, porque eu me contento com pouco: nos raros sorrisos que eu vejo hoje em dia no rosto das pessoas, nas esperanças que planto nelas, nos meus falares de esperança, nos meus otimismos desmedidos e por vezes que nos quais nem eu mesma acredito.
Vejo passando por entre os meus achados e perdidos minhas lembranças mais remotas e recentes. Nao sei porque tenho essa memória tão profunda, que lembra de frases inteiras que as pessoas me disseram, que é capaz de lembrar de longas conversas, independentemente do valor da conversa, desde a trivialidade até à que mais me comoveu.
Lembro que um dia ouvira alguém dizer que enquanto eu ainda vir Deus no outro nada estará perdido, eu nao consigo de deixar de ver Deus no outro, por isso me é tão doído ficar parada diante de olhares distantes, sorrisos sem graça, lágrimas disfarçadas. Quereria eu que os meus papéis avulsos fossem puros como um dia de aniversário de uma criança feliz com todos os seus parentes a amigos na sua casa, sorrindo alegremente e tirando os retratos que eu um dia olharei nas velhas gavetas displicentemente.