Um dia, inexplicávelmente, eu estava na faculdade, e ele de longe a me olhar, com ar de anjo decaído. Talvez essa semelhança se devesse ao fato da imagem que eu fazia dele. Fui pregar um cartaz, distraidamente eu estava ajeitando as bordas do cartaz, no cumprimento daquela trivial tarefa. Mas algo me incomodou, a sensação de ser observada sempre me incomoda. Contudo, apesar do primeiro momento de estranhamento, eu passei até gostar daquela sensação. Por entre o verde e algumas colunas que nos separavam e dificultavam que nos olhássemos, apareceram algumas pessoas, olhando o cartaz e lendo suas informações. Eu não deixava de ter qualquer vergonha ao saber que ele me observava, mas o que imperava agora em mim era mais uma curiosidade de decifrar aquele olhar que perscrutava cada gesto feito na intenção de prender cada vez mais sua atenção para mim, cada palavra dita, que mesmo ele não ouvindo, despertaria nele a curiosidade de decifrá-la.
Houve um momento em que eu não mais consegui fugir minha atenção a seu olhar tão penetrante.
Suas atitudes superficiais me espantavam e tiravam meu equilíbrio tão comum e facilidade de manter uma previsibilidade das relações que manteria com as pessoas. Eu que sempre conseguia manter relações profundas com as pessoas, com ele, não mais que algumas palavras triviais, seguida de uma despedida fria. As conversas superficiais sempre me deram uma sensação de fracasso. De não conseguir atingir e chegar ao coração do outro e ele só confirmava essa sensação.
Eu já não tinha o que fazer ali...as pessoas se foram, a conversa acabou, o cartaz estava em seu lugar, assim como cada coisa devia estar. Ele ficou com seu violão na mão e eu segui pelo corredor.
Um comentário:
Muiiiiito perfeito!
e não, não eh uma incapacidade de amar...é apenas um amor (amor?) que não tem mais nada para oferecer =)
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